Eu ♥ Este Livro #5

27 fevereiro C. Vieira 0 Comments

Olá, retornamos para mais um Eu ♥ Este Livro.
Falar sobre meus livros favoritos é um deleite para mim. Corro os olhos pela estante e sinto um enorme prazer em escolher um que já li apenas por saber que a releitura será tão gostosa quanto foi a primeira. E é assim que nos sentimos sobre um livro de que gostamos, tê-lo para reler sempre que quisermos faz com a leitura o torne um tesouro dos mais caros.
E partilhar com outras e outros nossas preferências, encontrar quem também se apaixonou pelo mesmo livro é muito bom.
Assim, sob este sentimento tão prazeroso, trago o próximo livro do Eu ♥ Este Livro, que é...




Faz pelo menos uma década que li este livro. E não foi na escola. Sinceramente, eu sempre detestei os chamados clássicos da literatura brasileira. Achava um tipo de escrita chata e rebuscada demais. Como adolescente, era difícil me fazerem quer ler por vontade própria algo do tipo. Só obrigada, como era na escola.

Li vários desta forma, Machado de Assis era o divo da época (e acredito que até hoje o seja), porém, para um público que crescia sem o hábito de ler, tentar incutir o costume por meio de deveres que incluíam minuciosas resenhas e resumos dos livros, não ajudava.

E assim fui até a idade adulta, quando comecei a olhar para este gênero com menos aversão e mais interesse. Primeiro foi com O Cortiço, de Aluísio Azevedo que achei muito interessante. Percebi, na época, que literatura brasileira não era o bicho-papão que eu imaginava.

E por uma indicação inusitada, decidi ler Senhora.

O livro é um romance publicado em 1874, sendo um dos últimos escritos por José de Alencar. É considerado o romance mais urbano do escritor, porque ele buscou mostrar e criticar levemente a sociedade fluminense em seus costumes e hábitos diários (lembrando que, na época, a capital do Brasil era no Rio de Janeiro, por isto, o local mais urbanizado do "país").

A protagonista Aurélia é  filha de uma costureira pobre e órfã de pai que se apaixona por um jovem ambicioso. Como o desejo do homem é ter um futuro com menos dificuldades do que ao lado da pobre moça, já que é um homem elegante, fino e que gosta de possuir o que havia de mais caro a se comprar na época, ele decide romper com ela buscando uma outra mulher que tenha um bom dote (costume antigo, mas ainda em vigor em algumas regiões do mundo, que consiste em a família da noiva dar uma quantia, de bens e/ou dinheiro, a um noivo para acertar o casamento. Sem o dote, uma mulher nada valia...) para se casar.

Com o passar do tempo, Aurélia que, além do irmão, também perde a mãe, vê-se sozinha no mundo. Porém, a herança de um avô provoca sua ascensão social e ela passa a ser uma rica donzela que procura por um marido. Mas não qualquer marido.


Ainda ferida pela atitude de seu antigo amor, ela decide negociar o casamento com o mesmo homem, mas sem que ele saiba quem seria sua futura noiva. E ele, apenas pensando em usufruir do dinheiro do dote, aceita sem pensar duas vezes. Ao descobrir quem ela é, Seixas, o homem que a magoou de maneira tão vil, fica feliz por ser Aurélia, pois ainda sente-se profundamente apaixonado por ela.

Mas Aurélia, do alto de sua nova posição financeira, esclarece a ele que aquele não foi nada exceto uma transação de negócios. Ela o havia comprado. Para representar o papel que necessitava perante a sociedade vigente, que não lhe permitia ser rica e independente para viver como quisesse.

Assim, Seixas percebe que vender a "alma" por um dote era um preço alto demais a pagar.
É claro que eu não vou contar o desenrolar da história, mas posso dizer que me surpreendi com a escrita de Alencar. A questão do "rebuscamento" da escrita ainda se mantém, mas a história envolve ao ponto de não se importar tanto com isto (e dicionário serve para tirar dúvidas mesmo!). A personagem principal, invariavelmente, mantém-se presa ao script que o Romantismo pedia para cada personagem - a mocinha pobre, o amor negado, o sofrimento do mocinho e o final...

Bem, o final só se descobre lendo o livro.

O que gostei no livro foi uma ruptura (leve) com a ideia de que a personagem feminina deve apenas sofrer calada toda a sorte de dor que o homem principal da história criar. Não chegaria a dizer que Alencar "rompeu" com qualquer tabu ou estigma que a mulher carregava/carrega, mas, às vezes, é bom que uma obra brasileira de época possa trazer como protagonista uma mulher diferente do usual.

Eu recomendo este livro a quem já leu outros da literatura brasileira, mas também a quem gostaria de começar a ler e já andou se divertindo com os de Jane Austen. Lembra muito as confusões amorosas de suas heroínas, mas com mais sarcasmo e cheiro de vingança.


Obrigada pela companhia e até a próxima!

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